Esta semana um grupo de professores do AE Marrazes participam num evento de formação de curta duração, em Glyfada na Grécia, dando continuidade ao projeto Learning to Play Playing to Learn. Um momento de partilha de práticas potenciadoras de aprendizagens através de jogos e brincadeiras. Let’s play to learn!😊
Testemunho Animadora Cultural Patrícia Martins
A semana de formação na Grécia, integrada no projeto Learning to Play and Playing to Learn foi muito rica no que diz respeito a aprendizagens , em particular nas que visaram a temática da educação inclusiva.
A escola de acolhimento, 12th Kindergarten de Glyfada , era um jardim de infância e tinha algumas rotinas semelhantes à dos nossos jardins. Integrava 3 turmas, sendo para duas delas o horário de funcionamento entre as 8h30 e as 13h00, altura em que os alunos regressavam a casa para almoçar e estar com as famílias. Quando questionámos quais as ocupações dos alunos no período da tarde, constatámos que a maioria dos alunos ficavam com famílias e que quem não tivesse esse apoio, ou background familiar contratava um apoio privado realizado por empresas do género ATL.
A 3ª turma , constituída por alunos de 5/6 anos funcionava até às 15h00, almoçando os alunos na escola e continuando as aprendizagens da parte da tarde. Nesta turma os as crianças eram convidadas diariamente a fazer algumas dinâmicas de relaxamento antes do almoço, por forma a estarem mais tranquilos nos espaços de refeição.
O espaço exterior da escola era muito semelhante a alguns dos nossos jardins, com equipamentos para brincar, áreas ajardinadas e outras cimentadas. Não tinham zonas de horta nem caixa( s) de areia.
Esta instituição não integrava alunos com deficiência.
Percebemos mais tarde que o sistema educativo grego propõe escolas especializadas no ensino de alunos com deficiência, que estão acompanhados em unidades de aprendizagem à sua medida, mas confinados a escolas da especialidade.
No segundo dia da visita, fomos recebidos por uma escola especializada no ensino de alunos surdos, uma das maiores referências gregas nesta vertente da educação e também com um trabalho de referência a nível internacional. A sua diretora participava com regularidade em conferências e encontros da especialidade, sendo responsável também pela produção de conteúdos e materiais pedagógicos neste âmbito.
Esta escola acolhia não só alunos surdos, mas também alunos com outro tipo de deficiências, como autismo, paralisia cerebral, e outras.
Nesta escola lecionavam professores ouvintes e professores surdos.
Este dia de formação presenteou-nos com duas atividades distintas e ambas muito ricas no que diz respeito às aprendizagens e a ferramentas para educação inclusiva
Por um lado assistimos à dinamização/ mediação da leitura pela mão da autora que se pautou por ser integradora e inteligível por todos, independentemente de serem alunos com necessidades especiais, alunos regulares e professores de várias nacionalidades que não dominavam a língua grega.Esta mediação da leitura, para além de à semelhança de todas as atividades e conversas ser “traduzida” em tempo real por uma interprete de língua gestual, estava também traduzida para inglês com uma projeção visível para toda a audiência, foi interpretada de forma muito performativa, expressiva e convidando à interação e participação dos alunos e público, aliando dinâmicas como o teatro, mímica, performance e música.Nesta sessão de animação da leitura o espectador deixou de o ser (enquanto indivíduo que assiste e assume uma postura passiva,) para assumir um papel importante e ativo na história.
Seguiu-se um pequeno intervalo onde pudemos conversar um pouco com a escritora e partilhar práticas com alguns dos colegas no que diz repetida livros e estratégias para a mediação da leitura, e como esta pode ser também integradora e inclusiva.
Tivemos também ainda a oportunidade de fazer jogos de concentração, foco e estratégia com alguns alunos.
Num segundo momento assistimos e participámos numa sessão de formação sobre Língua dos Sinais ou Língua Gestual. Esta língua consiste num conjunto de símbolos e sinais, uns internacionais outros específicos de cada país que permite às pessoas surdas comunicar entre si e com outros ouvintes que dominem a língua dos sinais.
É também através da língua dos sinais que encetam as suas aprendizagens leitoras e dos conteúdos programáticos.
A sessão foi dinamizada por um elemento do ministério da educação, ,professor , investigador, conferencista e especialista nesta matéria.
Segundo ele o mais difícil é convencer as famílias a abdicar dos implantes auditivos e assumir nos seus filhos a condição de surdos. Não é fácil em famílias ouvintes lidar com a situação dos seus filhos serem surdos, É fundamental que as famílias integrem os seus filhos em escolas que lhe permitam aprender a língua gestual, competência que rapidamente apreendem, da mesma forma que os ouvintes adquirem a linguagem.São muitas vezes as crianças surdas que ensinam posteriormente aos pais e as familias esta forma de comunicar.
No que diz respeito à aprendizagem da leitura e da escrita, esta surge nos surdos de forma natural após a aprendizagem da língua dos sinais. Apenas a leitura em voz alta e a verbalização ficam comprometidas dado que o aluno não ouve, logo torna-se difícil a verbalizarão correta das palavras e das leituras.
A diretora da escola de surdos que nos acolheu em conjunto com o conferencista, têm dinamizado várias sessões de formação e apresentação pública das suas metodologias e são responsáveis por vários materiais de apoio às aprendizagens, e manuais com conteúdos programáticos do currículo escolar regular adaptados à língua gestual/sinais, permitindo aos alunos que ainda não dominam bem a língua dos sinais encetem também as aprendizagens. É uma metodologia não muito diferente da que usamos também em crianças pequenas para que comecem a adquirir conceitos e a formular raciocínios através da leitura de imagens...
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